Bushwig

No festival drag de Bushwig, a lendária queen Lady Bunny entregou a tocha à próxima geração de artistas performáticos de vanguarda.

FLANANDO PELOS LUGARES QUE CONTAM – FESTIVAIS, FESTAS, SHOWS E MUITO MAIS.

Bushwig é diferente de qualquer outro show ou festival drag do mundo – diferente até mesmo do seu predecessor espiritual Wigstock. Com 150 drag queens se apresentando em um único fim de semana de setembro, o festival reune uma comunidade essencialmente diversa e incrivelmente inclusiva - promovendo artistas performáticos de todos os gêneros, sexualidades e raças. De drag cosplayers (de Sailor Mars à era Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer em sapatos fetiche) à garota vocalista cisgênero Sateen e seu marido/guitarrista drag queen Exquisite, as atuações no palco constituíam experimentos surreais que refletiam os slogans do festival, que resplandeciam: “Gênero é passado!”

O festival foi concebido por duas drag queens, Matthew Mendoza (conhecida como “Horrorchata”) e Simon Leahy (“Babes Trust”), que queriam celebrar a estranheza drag e a música que vicejavam em sua comunidade local e exibir as apresentações drag mais incríveis do mundo.

A lendária drag queen Lady Bunny – cofundadora de Wigstock – apresentou-se no festival neste ano e até mesmo entregou a notória tocha aos fundadores do Bushwig durante a sua apresentação. “A vibe de Bushwig foi eletrizante, com um espírito livre que nem mesmo um pouco de chuva conseguiu refrear”, disse ela após o festival. “O festival está agora em seu quarto ano e é muito mais bem organizado que Wigstock em seu décimo ano! Som e palco maravilhosos, farristas de drag ou não, inclusive um de peruca e saltos altos e nada mais”.

Lady Bunny elogiou o foco do Bushwig na promoção das estéticas não convencionais e no estilo faça você mesmo: “As queens de Bushwig estão tentando trazer algo funky e único a uma NYC insípida e corporativa. Snack bars veganos, um espaço Sober Sissies, cantores apresentando músicas interessantes, originais... Amém para isso!”

Passando o bastão: a lendária drag queen Lady Bunny

Quando perguntada como Bushwig se diferenciava de suas predecessoras, a cofundadora e mãe da House of Bushwig, Horrorchata disse: “Nós somos definitivamente mais jovens! Nós estamos trazendo arte, estamos trazendo tudo, já não há limites para o que é drag. Costumava ser, ‘Oh, vou colocar um vestido e fazer a sincronização labial de uma canção – mas já não se trata só de mera aparência. Das drag queens se esperava unicamente que se parecessem com mulheres e agora as pessoas estão usando barba e se expressando de novas maneiras. As pessoas estão fazendo umas coisas bem doidas!”

“Nós estamos trazendo arte, estamos trazendo tudo, já não há limites para o que é drag”.  – Horrorchata, cofundadora do Bushwig

“Eu quero que as queens façam mais que só a sincronização labial de uma música. Existe tanto talento por aí e ele só precisa ser alimentado e receber um empurrãozinho”, diz o cofundador Babes Trust. “É importante ver as drags de diferentes ângulos”.

De números musicais sincronizados, efeitos especiais de horror sanguinolento, maestria em instrumentos musicais ou roupas elaboradas, autocriadas, essa nova geração de drag queens certamente tem um muito a oferecer. Para os artistas participantes, no entanto, o evento de fato gira em torno da comunhão criativa. A Brooklyn Nightlife’s Drag Queen of the Year, Untitled Queen, descreve Bushwig como uma era na qual os artistas podem traduzir o seu amor pela dança, pelo teatro, pelo drag e pela música em um fim de semana mágico: “É tão lindo ver todos aqueles rostos sorridentes dos amigos enquanto eles se preparam para as suas apresentações. Embora Bushwig tenha aumentado em escala e espaço, ele ainda retém toda a magia de um evento local, do tipo faça você mesmo e feito no Brooklyn...".

HORRORCHATA
De San Antonio, Texas. Mãe da House of Bushwig, cofundadora do Bushwig Drag Festival.

O que é diferente neste ano?
Temos muito mais espaço. A Onderdonk House tem capacidade para umas 1000 pessoas, então as pessoas podem se locomover à vontade nos espaços. Eu não estou na programação porque estamos muito corridos este ano, mas se houver tempo para mim, eu já tenho o meu look, meu número, meu vestido e minha peruca! Estou pronta e, se rolar, será definitivamente um número baseado nos anos 90 – sou uma fly girl, você sabe. Representante do Texas!

Quantas vezes você trocou de roupa hoje?
Estou apresentando uns cinco looks. Há pouco, eu lhes mostrei Lady Bunny, enormes cabelos e vestido esvoaçante. Esta peça de agora é da Aja, outra drag queen do Brooklyn. O meu próximo vestido é uma colaboração com BCalla - ele produziu todo o ato drag de Miley para os VMAs.

“Se Lady Bunny conseguiu estar ativa há mais de dez anos, por que Bushwig não poderia? É o que eu digo. Ela simplesmente me passou a tocha no palco durante a série dela”.  — Horrorchata

Qual é o futuro de Bushwig?
Se Lady Bunny conseguiu estar ativa há mais de dez anos, por que Bushwig não poderia? É o que eu digo. Ela simplesmente me passou a tocha no palco durante a série dela. Ela é uma de minhas inspirações para querer fazer drag e como Bushwig aconteceu antes de tudo.


SEVERELY MAME
Do Brooklyn, Nova York. Bushwig MC.

Fale sobre o seu look de hoje. O que vamos ter?
Eu o chamo de “Pin-up Ghoul.” Às vezes eu sou só uma garota morta – mas sou a Garota Morta Favorita da Cidade de Nova York – que é o meu título formal. Eu sempre produzo uma forma anos 50 com uma nuance mórbida.

Precisamos de mais queens como você, com tatuagens.
Elas estão se tornando cada vez mais comuns e há um monte de belas garotas por aí que estão cobertas de tatuagens, o que eu amo! Uma das minhas artistas favoritas é Jenny Moore e estou SUPERDEPRIMIDA porque ela é tão maravilhosa. Ela é da Filadélfia; eu estou obcecada por ela.

Pode me dar uma rápida prévia da sua atuação?
Vou fazer um dos meus atos geek – é como se chama no mundo dos espetáculos secundários – é uma atuação para chocar as pessoas, na qual alguns artistas arrancariam com os dentes a cabeça de uma galinha e coisas desse tipo. Eu vou fazer um número 'engolidor de cigarros', que é um dos meus favoritos.

O que você acha que torna Bushwig tão especial?
É um encontro de família. A cada ano, é como se você conhecesse primos que você nunca teve! A família continua crescendo e acaba sendo uma enorme congregação familiar que dura todo um fim de semana. Passando um tempo juntos, ficando bêbados juntos, apresentando-se e comemorando os últimos resquícios do verão juntos.


MERRIE CHERRY
De Berkeley, Califórnia. Drag queen do Brooklyn

Você preparou uma apresentação especial?
Essa atuação está sendo preparada há três anos! Eu tinha muito receio de fazer o show antes, mas agora cheguei a um ponto em minha carreira em que não dou a mínima, então vou fazer e pronto. Vou fazer um número 9/11 – eu ensaiei duas vezes e chorei nas duas.

O que o inspirou a apresentar esse ato político?
Eu sempre sou política em minhas apresentações. Como uma pessoa que faz muito drag no Brooklyn e na comunidade homossexual, eu tenho essa liberdade de fazer o que quero e esperar que corra tudo bem. Costumo receber uma boa resposta das pessoas. Eu acho que elas vão entender que a coisa vem de um lugar bonito em um espaço criativo.


DIDI BONIVA
De Jacksonville, Flórida. Presença anual em Bushwig

Fale-me sobre o seu look.
Eu sou superinspirado pelo blog Advanced Style. Eu quero ser uma mulher velha realmente da moda, super Manhattan. Meu nome – Boniva – na verdade remete a um suplemento de cálcio para mulheres velhas.

Quem é a velhinha favorita quando se trata de se vestir?
Iris Apfel. Claro! Eu amo o som das pulseiras barulhentas dela.  No documentário Iris, o primeiro minuto é composto pelo estalido das joias dela e eu pensei “Isso é tudo de que você precisa para esse filme!”

Quem é a pessoa que você está mais ansioso por ver em Bushwig este ano?
Fiquei empolgada com o fato de Lady Bunny estar aqui porque tinha ido a Wigstock naquele dia e acho que é realmente muito incrível que ela dê valor à geração mais jovem e que essa geração lhe dê apoio.


UNTITLED QUEEN
De Governors Island, Nova York. Artista e vencedora do Brooklyn Nightlife’s Drag Queen of the Year Award.

Fale um pouco sobre a sua formação.
Eu nasci em Governors Island! Era uma base militar naval e ela foi fechada em 96. Eu vivi ali até os 12 anos. Estudei arte na Parsons. Hoje estou completando 31 anos de idade e estou me apresentando no quarto Bushwig anual.

Esse é um look enorme que você está usando! Fale um pouco sobre a sua relação com as roupas.
Minha drag é totalmente parte do meu trabalho de arte. Os looks são faça você mesmo e são experimentos esculturais. Eu crio a minha arte da mesma maneira que crio a minha drag – é tudo uma e a mesma coisa.

Qual foi a inspiração para o seu look e a sua apresentação de hoje?
Eu queria trazer “Bridge Over Troubled Water” e um amigo sugeriu que eu criasse um look de troll. Achei que seria perfeito porque eu gostei da ideia de um troll vivendo debaixo de uma ponte. Eu amo demais essa mistura entre a beleza inesperada e coisas que se parecem com lixo, mas que não são. Há de tudo neste vestido – parece que eu fiquei catando lixo por todo o Brooklyn – tem até mesmo um ratinho em algum lugar por aqui. Claro que não é real, eu ficaria petrificado!